No
ano de 1901 um estranho e impressionante artefato mecânico foi descoberto,
juntamente com várias estátuas e outros objetos, por mergulhadores, à
profundidade de aproximadamente 43 metros na costa da ilha grega de Antikythera,
entre a ilha de Citera e a de Creta. Datado de 87 a.C., em 17 de maio de 1902,
o arqueólogo Spyridon Stais notou que uma das peças de pedra possuía uma roda
de engrenagem. Quando o aparelho foi resgatado estava muito corroído e
incrustado, depois de quase dois mil anos, parecia uma pedra esverdeada. Visto
que de início as estátuas eram o motivo de todo o entusiasmo, o artefato misterioso
não recebeu muita atenção. O mecanismo foi examinado em 1902, e estava em
vários pedaços. Havia rodas denteadas de diferentes tamanhos com dentes
triangulares cortados de forma precisa. O artefato parecia um relógio, mas isso
era pouco provável porque se acreditava que relógios mecânicos só passaram a
ser usados amplamente uns 700 anos atrás
Em
1958, o mecanismo foi analisado por Derek J. de Solla Price, um físico que
mudou de ramo e tornou-se professor de História na Universidade de Yale. Ele
chegou a acreditar que o aparelho era capaz de indicar eventos astronômicos
passados ou futuros, como a próxima lua cheia. Também percebeu que as
inscrições no mostrador se referiam a divisões do calendário, dias, meses e
signos do zodíaco. O professor supôs que deveria haver ponteiros que girassem
para indicar as posições dos corpos celestes em períodos diferentes. O
professor Price deduziu que a roda denteada maior representava o movimento do
Sol e que uma volta correspondia a um ano solar. Se uma outra engrenagem,
conectada à primeira, representava o movimento da Lua, daí a proporção entre o
número de dentes nas duas rodas deveria refletir o conceito dos gregos antigos
sobre as órbitas lunares.
Em
junho de 1959, o professor Price publicou um artigo sobre o mecanismo na
Scientific American enquanto o mecanismo estava apenas sendo inspecionado. Em
1971, o professor Price submeteu o mecanismo à uma análise com o auxílio de
raios gama. Os resultados confirmaram as suas teorias. O aparelho era um calculador
astronômico complexo. Ele fez um desenho de como achava que o mecanismo
funcionava e publicou suas descobertas em 1974. Escreveu "Não existe
nenhum instrumento como esse em lugar nenhum. De tudo que sabemos sobre a
ciência e tecnologia na era helenística. deveríamos ter chegado à conclusão de
que um instrumento assim não poderia existir”.
Na
ocasião, Price afirmou que o aparelho teria sido construído por Geminus de
Rhodes, um astrônomo grego, mas a sua conclusão não foi aceita pelos
especialistas à época, que acreditavam que, embora os antigos gregos tivessem o
conhecimento para tal máquina, não tinham a habilidade prática necessária para
construí-la. Em 1996 o físico italiano Lucio Russo, professor na Universidade
de Roma Tor Vergata, publicou um artigo acrescentando novas luzes à questão. O
artigo foi traduzido e publicado em língua inglesa em 2004 sob o título de
"The Forgotten Revolution: How Science Was Born in 300 BC and Why it Had
to Be Reborn". A partir de setembro de 2005, a fabricante estadunidense de
computadores Hewlett-Packard (HP) contribuiu para a pesquisa disponibilizando
um sistema de reprodução de imagens, tomógrafo digital, que facilitou a leitura
de textos, que haviam se tornado ininteligíveis devido à passagem do tempo.
Essas
pesquisas permitiram uma visão melhor do funcionamento do mecanismo. Quando o
usuário girava o botão, as engrenagens de pelo menos 30 rodas denteadas
ativavam três mostradores nos dois lados do aparelho. Isso permitia que o
usuário previsse ciclos astronômicos - incluindo eclipses - em relação ao ciclo
de quatro anos dos Jogos Olímpicos e outros jogos pan-helênicos, isso no ano 87
a.C. Esses jogos eram comumente usados como base para a cronologia. Essas
informações eram importantes uma vez que para os povos da Antiguidade o Sol e a
Lua eram a base para os calendários agrícolas, além do que os navegadores se
orientavam pelas estrelas. Os fenômenos astronômicos influenciavam todas as
instituições sociais gregas. Complementarmente, "Para os babilônios
antigos, prever eclipses era muito importante, visto que esses fenômenos eram
considerados presságios ruins", escreveu Martin Allen, do Projeto de Pesquisa
do Mecanismo de Anticítera. "De fato, o mecanismo poderia ser encarado
como uma ferramenta política, permitindo que governantes exercessem domínio
sobre seus súditos".
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